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Sentir Para Fortalecer

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os velhos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. Se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
Fernando Pessoa




“Regredir para Progredir” é uma frase frequente com quase todos os pacientes, que no início da terapia se queixam de estar a piorar…. Quando investigamos o significado deste “estar a piorar” rapidamente percebemos que falam sobre estar mais em contacto com os seus sentimentos, histórias, tristezas, caminhos….  Falam sobre a possibilidade de começar a navegar no seu corpo, trazendo à consciência novos dados, factos e sentimentos que estavam soterrados por diferentes mecanismos de defesa, que abafam a dor mas também a alegria e o prazer de viver.
Mergulhar neste processo de desenvolvimento pessoal e autoconhecimento, passa muitas vezes por inicialmente nos sentirmos mais fracos, mais vulneráveis, mais tristes, mais isolados, mas também mais conscientes, mais enraizados, mais perto da nossa verdade interna.

Ainda ontem em consulta com uma adolescente ela falava sobre como este verão tinha sido difícil, porque continua a sentir-se muito em baixo. Paralelamente falava também com enorme clareza sobre todas as suas vivências e reflexos de tudo isso na sua vida atual. Nos primeiros meses de terapia não era capaz de ter esta clareza, pelo contrário, tinha vivido inúmeras situações em que se sentiu magoada, rejeitada e sozinha sem sequer perceber o que estava a sentir, ou melhor, sem sentir!

Felizmente, ou infelizmente, tudo o que reprimimos ao longo da vida, não deixa de existir! Colocar para “trás das costas”, inibindo a consciência das nossas emoções, nem sempre é a melhor solução. Este mecanismo de Repressão, deslocando pensamentos, ideias, emoções, ou desejos perturbadores da consciência para o inconsciente, não faz com que tudo isso não continue a condicionar a nossa vida e os nossos comportamentos. Precisamos fazer pontes com o passado, para trazer à superfície tudo o que navega nesse mar infindável que é o nosso inconsciente.
Este processo de enraizamento e consciência traz dor, talvez seja verdade, mas é absolutamente necessário na caminhada em direção a nós próprios, ao centro do nosso Ser.
A maioria das pessoas não foge conscientemente aos seus sentimentos… Apenas não aprendeu a poder entrar dentro de si e olhar para as suas emoções, tal como não aprendeu a escutar a voz do corpo, que tantas vezes nos fala. É como se vivessem a planar, com medo do que o contacto com as emoções possa trazer, com medo da expressão, com medo de poder ser apanhado de surpresa e ficar submergido por uma qualquer emoção, com medo de se expor ou com vergonha de sentir. Quando a pessoa se encontra assim, desenraizada e pouco presente, o Ego tem tendência a reagir de forma menos racional e consciente e são tantas as vezes que acabamos por não conseguir compreender porque nos comportamos de determinada maneira ou porque sentimos raiva, medo, insegurança, perante factos que quando pensamos sobre eles, até não são muito importantes…  Assim vamos vivendo ao lado do nosso processo de desenvolvimento pessoal, sem capacidade de abraçar a verdade, da nossa verdade interna e ficamos aquém de nós próprios! Ficamos enredados num processo de contração física e emocional que nos impede de viver plenamente o nosso quotidiano.

É fundamental abrirmos campo à nossa capacidade de nos tornarmos mais conscientes, mais presentes, mais enraizados, mais conscientizados… Basta decidirmos começar a desenvolver em nós a capacidade de vivermos mais “awareness”, focalizando a nossa atenção em todos os pequenos detalhes do nosso quotidiano e aprendendo a respirar. Focalizar a consciência em tudo o que estamos a fazer, desde tomar banho, comer ou conduzir, acompanhando sempre com uma respiração consciente pode trazer descobertas incríveis sobre nós próprios…
É maravilhoso o quanto podemos descobrir a respeito da nossa existência, simplesmente prestando atenção e tronando-nos mais profundamente conscientes do nosso experienciar….
Não estou a falar de meditação, porque sei o quanto pode ser difícil incluir esse ritual no dia-a-dia agitado deste nosso século XXI, mas ainda assim, acredito que podemos integrar pequenas ferramentas que nos ajudem nesta caminhada de volta a nós próprios. É profundamente apaziguador compreender o que fomos, o que somos e porque somos; Compreender os nossos padrões, mecanismos de defesa e pacificar isso dentro de nós.

Vários sábios já disseram que o mundo está aqui ao nosso lado, tudo o que temos que fazer é esvaziar as nossas mentes e abrir em nós a possibilidade de recebê-lo!
Começar por aprender a Sentir é sem dúvida o primeiro grande passo para nos podermos Fortalecer…

Ana Galhardo Simões, Psicoterapeuta Corporal na MD|Clinic


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